Crises na Carreira: por que temos tanta dificuldade em decidir o que queremos fazer?
ESTE ARTIGO FAZ PARTE DO LIVRO THE BOOK OF LIFE, CAPÍTULO 2: TRABALHO.
Em 1700, na Europa Ocidental, havia aproximadamente 400 tipos diferentes de trabalho para escolher. Atualmente, há cerca de 500 mil. Não é de espantar que, às vezes, tenhamos um pouco de dificuldade em decidir o que queremos fazer.
Durante boa parte da história, a maioria das pessoas acreditou que esta vida não é a única chance que temos de nos realizar. Existiriam mais vidas além da morte, nas quais poderemos corrigir os erros cometidos aqui na Terra. A ansiedade na carreira surge – em parte – de uma incapacidade crescente de acreditar em outras vidas.
Uma vida média pode ter apenas 600 mil horas. Identificar um trabalho realizador exige uma mistura sensata de medo e pressa, com exame de consciência e paciência.
Depositamos nossas esperanças de felicidade no Amor e no Trabalho, mas, com relação a ambos, nós nos recusamos a planejar metodicamente, a nos entendermos completamente, a treinar incansavelmente e a fazer terapia antes de agirmos. Idolatramos o instinto nos lugares errados.
Raramente temos tanta insatisfação e incerteza sobre o que nos satisfaria quanto em relação a nosso trabalho. Só sabemos o que está errado, não o que seria certo; nosso descontentamento grita para ser ouvido, mas se recusa a nos apontar alguma direção clara quando nos abaixamos para escutá-lo.
Como nos relacionamentos, é um alívio tremendo – e não um sinal de maldade – saber que outras pessoas também estão infelizes com seu trabalho. Não se sentir sozinho é um consolo significante e digno.
A pior hora para crises na carreira é no final de tarde de domingo, normalmente às 17h: quando as esperanças vagas e a sensação de possibilidade do final de semana finalmente colidem com a fria realidade da semana que está para começar. A extensão de nosso desespero é uma medida de nosso grau de potencial não aproveitado.
A ansiedade com a carreira é nosso talento latente uivando em nossas mentes, desesperado para não morrer inutilizado.
O sentido moderno da vida: nossos interesses mais profundos devem encontrar expressão externa de uma forma que os outros achem útil – e que trará dinheiro suficiente para uma vida confortável. A ambição é enorme, linda e digna de respeito solene por sua complexidade.
Somente na história muito recente é que tentamos não apenas ganhar dinheiro no trabalho, mas também – extraordinariamente – ser felizes ali. Essa ideia teria soado profundamente peculiar para a maioria de nossos ancestrais, especialmente para os aristocratas que nunca trabalharam e para as classes operárias que teriam desejado fervorosamente não trabalhar. O trabalho feliz é a invenção genial e malévola da burguesia.
Nossas crises na carreira são agravadas pela noção de que nossos talentos só são reais se a) nos rendem dinheiro, b) são utilizados o tempo inteiro e c) não são apenas hobbies. Tais dogmas são, no mínimo, abertos a questionamento.
Reafirmamos a nós mesmos a quantidade de tempo que nos resta ao darmos à nossa morte imaginada a data da expectativa média de vida, sem lembrar que, antes de chegarmos ao ponto final, teremos enfrentado anos de crescente incerteza, terror enquanto nossos amigos morrem, uma sensação de que não estamos mais em casa no mundo e humilhantes problemas intestinais. Em outras palavras: nunca devemos deixar de ter um pânico útil com relação ao pouco tempo que nos resta.
Como a questão que isso trata é consequencial, é extraordinário que o aconselhamento de carreira ainda seja a mais amadora e casual das ocupações, quase tão malfeita quanto a neurocirurgia nos tempos medievais.
Muitos de nós ainda estamos presos dentro da jaula de carreira inconscientemente criada por algumas escolhas desinformadas e apressadas que, desavisados, fizemos aos 18 anos.
Na utopia, começaríamos a estudar “O que quero ser quando crescer?” dos cinco aos 18 anos, uma hora por semana, subindo para três no último ano do ensino médio.
Quando seus talentos e aptidões atendem às necessidades do mundo, essa é a zona de nossa missão em particular na vida.
Escreva 10 empregos que seus conhecidos da universidade têm e nos quais você definitivamente não tem interesse. Liste os motivos para isso. Comece a entender as particularidades de sua identidade no trabalho.
O que queremos, acima de tudo, é um trabalho significativo – o que significa, em essência, um trabalho que alivia o sofrimento ou aumenta o prazer dos outros.
Quando o trabalho parecer significativo, você estará pronto para dar a vida por ele por um salário praticamente equivalente ao mínimo. Quando sabe que, essencialmente, não faz sentido, briga por milhões. Soldados versus banqueiros.
A inveja parece desagradável e vergonhosa, mas contém pistas essenciais sobre suas ambições ocultas. Mantenha um registro de todos que você conhece com empregos que o deixam com inveja. Lentamente, monte um retrato de sua ocupação ideal através de uma análise de suas emoções invejosas. Mantenha um Diário da Inveja.
Com frequência não fazemos nenhuma mudança na carreira porque ficamos fixados em enormes transformações – e ignoramos o papel das evoluções. No entanto, uma carreira totalmente nova pode germinar de uma matrícula em um curso noturno semanal.
As pessoas não tendem a deixar os empregos por causa do salário ou mesmo por causa da política corporativa – saem quando não estão mais aprendendo.
Pensar em quais eram nossos interesses mais satisfatórios na infância é importante, em parte, porque, naquela fase, estávamos livres das duas grandes ansiedades que mais tarde inibem o desabrochar de nossas verdadeiras personalidades no trabalho: a necessidade de dinheiro e o anseio por status. O sucesso verdadeiro pode significar, aos 50 anos, ter voltado de maneiras essenciais ao que era divertido fazer aos cinco.
Todos os pais criam inconscientemente (ou não) uma noção de que alguns empregos não são possíveis para seus filhos – porque são humildes demais, ou ambiciosos demais, ou simplesmente porque as pessoas da família não fazem esse tipo de coisa. Pense em 10 ocupações que podem ter sido plausíveis, mas foram (psicologicamente) descartadas em casa.
A servidão terminou na Europa Ocidental no início do século 15, mas continua como uma categoria psicológica em nosso inconsciente. Tais coisas podem levar alguns milênios para se resolverem. É por isso que, normalmente, somos tão catastroficamente modestos sobre o que merecemos atingir.
É alentador, nem um pouco ridículo e, ainda assim, mortalmente consequencial que a maior parte de nosso sucesso na vida dependa da CONFIANÇA, uma matéria que nunca é ensinada na escola, que soa como algo saído de manuais bobos de autoajuda – mas que, mesmo assim, determinará o quanto ousamos (o que é metade do caminho, no mínimo).
Se a confiança não pode ser convocada de maneiras mais comuns e suaves, a morte sempre está ali como um recurso para nos assustar a sermos produtivos.
A mudança começa quando o medo de não agir finalmente supera o medo paralisante de cometer um erro.
DINHEIRO, CRIATIVIDADE, RESPEITO, ESTABILIDADE. Coloque em ordem de importância.
Reconheça quão parco seu conhecimento sobre possíveis ocupações pode ser – devido à influência nada útil da arte (especialmente o cinema) que joga incansavelmente os holofotes sobre os mesmos lugares: médico, advogado, político... Quantas pessoas não seguiram sua vocação porque não há – ainda – seriados de TV ambientados no mundo da logística?
Quando pensamos em mudar de carreira, com frequência nos detemos ao pensar em alguns amigos em particular que, achamos, ficariam especialmente surpresos e um tanto ofendidos. Uma mudança de carreira pode envolver, em parte, reajustar seu círculo de amigos.
Nossos possíveis lados profissionais são como bonecas russas. Há pelo menos cinco desses lados totalmente plausíveis dentro de cada um de nós. Somos diversos lados buscando em vão por identidades únicas.
Em uma folha grande de papel, faça um mapa, no formato de um rio, de como você chegou onde está agora; mostre os afluentes alimentando a correnteza principal e represas onde as coisas foram bloqueadas ou fracassaram.
Que trabalho a pessoa que você mais gostaria de ver falhar tem? Há pistas aqui.
Faça uma lista de seus medos com relação ao trabalho, como: não ganharei o suficiente; serei ridicularizado; decepcionarei fulano; ficarei entediado; não darei uma contribuição à sociedade; não usarei adequadamente meus talentos. Dê a cada um uma pontuação de gravidade de 1 a 10.
Uma enfermeira de cuidados paliativos afirmou que um dos principais arrependimentos de doentes em estado terminal é o desejo de terem tido a coragem de viver uma vida fiel a si mesmos, não a vida que os outros esperavam deles.
Pare de pensar em empregos que poderia querer ter – e comece a pensar nas qualidades nos trabalhos. Em resumo, não ‘designer gráfico’ ou ‘professor’, mas palavras como: criativo, liderança, sentido, calmo, espírito de equipe.
Enfrentamos duas tarefas: nos darmos bem com nossos pais e termos um trabalho de que gostamos. Os pais nunca deveriam deixar a escolha mais difícil do que é.
O que temo mais em minha carreira dar errado é: não ganharei o suficiente; não serei suficientemente criativo; não darei uma contribuição à sociedade; serei um ninguém. Organize de acordo com a urgência.
Em quais desses itens você, no final das contas, é melhor: números, palavras, imagens, pessoas...?
Minha mãe/meu pai me deu uma noção de que uma boa carreira é... Se minha mãe/meu pai realmente tivesse me ajudado a ser...
A possibilidade de ter sucesso é notavelmente assustadora. Quem ou que experiência pode ter lhe feito sentir que pode não merecer o sucesso?
Não ter um plano nos coloca rapidamente à mercê daqueles que têm um.
Criar; Ajudar; Servir; Ensinar; Projetar; Construir; Ganhar; Dê uma nota até 10 para cada um.
Envie um e-mail a sete amigos e conte que está participando de um experimento no qual você precisa perguntar a eles que cinco empregos acreditam ser mais adequados do que o que você procura atualmente.
Cada empreitada bem-sucedida é, no fundo, uma tentativa de resolver o problema de alguém: quais são – para você – os problemas mais interessantes da humanidade? Cada momento de infelicidade é, potencialmente, uma nova empreitada esperando para nascer.
Em que áreas da vida você é considerado pelos amigos como especialmente “exigente”? Trate essa sensibilidade aumentada como um armazém no qual ideias de negócio ficam enterradas.
Relembre as ideias mais ‘ridículas’ para uma empresa que você já teve: imagine se não fossem nada ridículas. Segundo Emerson: “Nas mentes de gênios, encontramos – novamente – nossos próprios pensamentos negligenciados”.
Se eu fosse forçado a comandar uma loja, venderia...
Não se condene por ficar preocupado com seu futuro profissional. Não deixe que os outros descrevam a ansiedade como neurótica. Dê à agonia o tempo que ela precisa; refestele-se nisso. Prepare-se para passar uma hora nela cada manhã e quatro a cada final de semana.
O fato de você ainda não ter encontrado sua vocação não é uma indicação de que nunca a descobrirá. Mesmo que você tenha 73 anos atualmente.
É totalmente aceitável ter perdido tanto tempo.
Como é incomum querer ser feliz através do trabalho... Estamos tentando fazer algo novo e pioneiro, como voar no espaço – e pode haver acidentes em nossas missões. Um trabalho que você ama não significa que só exista um trabalho que você possa amar. Então, será sempre razoável ter arrependimentos.
É fácil imaginar que tudo já foi feito e tentado: a verdade empolgante e, ao mesmo tempo, alarmante é que ainda mal começamos. Há centenas de anos de invenção e criatividade anda restantes para nossa espécie.
Existe uma tentação de ver o lado imaturo de seus pais como sendo originados do trabalho deles – e, portanto, descartar seguir seus passos profissionais, talvez perdendo algumas oportunidades potencialmente muito boas. Não tenha muito desprezo pelo familiar não exatamente admirável.
Suspeite das chamadas “indústrias criativas”: elas tendem a ser muito mais “indústrias” do que centros “criativos”. No final das contas, talvez existam pouquíssimos lugares em que você pode estar adequadamente seguro e ser adequadamente criativo.
Frequentemente, julgamos os empregos por seus inícios – e, portanto, fazemos um tremendo desserviço a algumas carreiras enquanto sobrevalorizamos outras. O que a carreira parece ser nos primeiros cinco anos pode não ter nada a ver com o que ela será mais tarde. Muitos dos melhores empregos não têm bons começos.
É hora de recuperar e dar dignidade à noção de arrependimento: obviamente haverá coisas que nunca conseguiremos fazer... Espalhe um espírito confortador ao aprender a perguntar em festas, com uma suave melancolia, não ‘o que você faz?’, mas sim ‘o que você queria ter feito?’