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"Não dá para ser feliz só no fim de semana e nas férias”


As confissões de Adriano Silva, autor de 'O Executivo Sincero', sobre ansiedade, melancolia e estresse no ambiente de trabalho

O jornalista gaúcho Adriano Silva, de 44 anos, conhece bem o mercado corporativo. Com mais de 20 anos de carreira, ele assumiu cargos de direção em grandes empresas de comunicação, como Rede Globo e Editora Abril. E teve de lidar com momentos de angústia, ansiedade e depressão -- sensações que o acompanharam, em maior ou menor grau, em sua atuação como empreendedor, que começou em 2008. Atualmente à frente de três negócios -- Damnworks (empresa de conteúdo e mídia social), The Factory (companhia de marketing e inovação) e Draft (site que conta histórias inspiradoras de pessoas que estão mudando os rumos do mercado em que atuam) -- Adriano encontrou tempo para escrever a trilogia O Executivo Sincero, que teve o segundo livro lançado em novembro com o subtítulo: Confissões sobre estresse e depressão no trabalho e na vida. Nas obras, o objetivo de Adriano era apenas um: se expor. “Eu me coloquei debaixo dos holofotes para falar sobre tabus e mostrar para as pessoas as soluções que encontrei para enfrentar os problemas da minha vida”, diz Adriano. Grande parte de seu livro gira em torno da discussão sobre a ansiedade que, em momentos de crise econômica, costuma ser um problema ainda mais crítico. Como lidar com ela? O ano de 2015 foi duro. E 2016 não deve ser muito melhor. Então, é preciso rever alguns hábitos porque, se as coisas estão ruins, o ansioso vai sofrer ainda mais. Ansiedade é um processo interno, é o modo como reagimos ao que acontece, o jeito como nós nos vemos e como entendemos o mundo. Os ansiosos precisam ajustar essa lente pela qual distorcem tudo e olhar para o cenário da maneira mais clara e objetiva possível – algo dificílimo, pois somos seres subjetivos. Além de ajustar a lente, você diz que os ansiosos também precisam parar de querer ter controle sobre tudo. A centralização é um traço desse profissional? Sim, porque os ansiosos não suportam a incerteza. E quando as incertezas surgem, o ansioso sai de órbita. No limite, esse comportamento se transforma em síndrome do pânico, quando você tem tanto medo de ser surpreendido, tem tanto medo de viver, que simplesmente não vive. Quem não aprende a lidar com essa falta de controle está perdido. E é bom que uma coisa fique clara: não é o crescimento econômico do país que vai resolver o problema da ansiedade. Só você pode fazer alguma coisa sobre isso. A questão é que, muitas vezes, não nos damos conta de que a vida é um processo longo e que o que vale não é só conquistar um objetivo, mas o caminho que trilhamos para chegar até a meta. O nervosismo aumenta por que as pessoas não conseguem parar de pensar no que querem no futuro? Sem dúvida. E até dá para entender por que. Afinal, nossas vidas acabam se resumindo às nossas conquistas. O duro é quando você atrela a sua felicidade a um objetivo e fica pensando que só vai ser feliz quando se formar, quando se casar, quando conseguir aquele emprego... Isso faz com que as pessoas se tornem totalmente infelizes quando não alcançam alguma coisa. E às vezes o objetivo muda e você nem percebe, pois está preso a aquele grilhão anterior que você mesmo se impôs. A vida é um fluxo e é preciso encontrar sentido nos meios e não só nos fins. Quais as estratégias para viver mais o presente? Primeiro, tem que aprender a lidar com a incompletude das coisas. Se você não começa a ter essa atitude, vai ficar paralisado pensando só no futuro. Um jeito de treinar isso é fazer o dia caber em 8 horas. Abra o seu computador com um objetivo específico e pense: é isso que eu quero realizar hoje. Amanhã, é outra coisa. Também não vale deixar de viver o presente se escondendo no passado, que é um lugar muito confortável para o ansioso, pois ele já viveu aquilo e sabe tudo o que aconteceu. Eu bati muito a cabeça na parede até entender que precisava agir assim, que se eu não mexesse na minha engrenagem interna, seria infeliz. No livro, há uma afirmação interessante: “as pessoas andam viciadas na tristeza”. Por quê? A tristeza é uma moléstia doce e sedutora, como um copo de vinho, por isso tem tanta gente viciada na tristeza. E a tristeza leva a um comportamento complicado: ter pena de si mesmo. Você pode até achar que isso vai atrair os outros, mas isso só afasta. Esse comportamento gera um círculo vicioso: quanto mais se cai, mais difícil se levantar. Não é à toa que há uma forte dependência em remédios tarja-preta no Brasil. Muitos profissionais precisam de estimulantes na quarta-feira porque sem isso não conseguem chegar vivos na sexta-feira. Embora a maioria das pessoas ache normal, não dá para ser feliz só no fim de semana e nas férias. Tem uma hora que a conta não fecha e é preciso repensar a carreira para se conectar mais com a sua essência. Em um capítulo, você conta a história de um amigo que tinha medo de tentar a vida como professor, a sua paixão, e que seguiu uma carreira mais tradicional, o que o deixou infeliz. E comenta: “para não correr riscos, ele correu o maior dos riscos: negar o que sua voz interior estava lhe dizendo”. Como ouvir mais a nossa voz interior? Ele foi aceitando as oportunidades corporativas que surgiram ao longo da vida. Mas uma hora não aguentava mais e perguntou: esse é realmente o caminho que eu quero para mim? Isso fica mais forte no nosso segundo tempo da vida, depois dos 40 anos. Até lá, você nunca recusa nada porque é bom, porque agrega competências. Mas tem um momento em que é natural se perguntar qual é o seu propósito na vida. Você não tem mais tempo. Cada minuto que passa é um minuto a menos para se realizar. Esse amigo se tornou professor e, quando estávamos conversando, eu o elogiei e disse: “Dinheiro não é tudo”. E ele me respondeu: “Mas eu estou ganhando mais hoje!”. Me deu uma lição. Quando corremos atrás de um propósito e tiramos a grana da frente, o dinheiro vem naturalmente. Ansiedade corporativa – Confissões sobre estresse e depressão no trabalho e na vida. Adriano Silva - Editora Rocco - 272 páginas

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